terça-feira, 8 de março de 2016

Trabalhadoras da Educação falam sobre o Ser Mulher

 
Que lugar a mulher ocupa na sociedade ou 
deve ocupar? O que é ser mulher? Cinco mulheres da comunidade do Instituto Federal Baiano (IF Baiano) contam, para a equipe do Bem Baiano, sobre a vida múltipla dividida entre as atividades do lado pessoal e do profissional, as conexões com o cotidiano do Instituto e as expectativas quanto ao futuro e suas contribuições a esse amanhã.

Mulheres conscientes do hoje e confiantes quanto a uma vida melhor às mulheres das próximas gerações. Elas traduzem em palavras suas vivências femininas de força e superação. “Sou mãe, esposa, agricultora, estudante de agroecologia, bolsista de projeto, membra do grupo força jovem da igreja que participo, cooperada, voluntária em grupos de agroecologia...”, estão entre as definições da estudante do quinto semestre de Tecnologia em Agroecologia do Campus Uruçuca, Eulália Muniz.

O caso de Eulália, que relata suas experiências pessoais inspiradoras como sua mãe que finaliza uma pós-graduação aos 52 anos e seu marido como responsável por suas conquistas, além do seu próprio exemplo que estuda no município de Uruçuca e mora em local distante 42km (40km da cidade e mais 2km da estrada de chão na zona rural até o ponto de ônibus). É essa mulher de inúmeras atividades que reflete quem são elas agora no século XXI: determinadas e com força de vontade para fazerem o que acreditam.

De batalhadoras a construtoras também dos espaços do trabalho, elas acreditam na transformação desses lugares a partir do olhar feminino seja nas lideranças, no empreendedorismo e/ou na política para uma nova vida. “A ocupação cada vez frequente de mulheres em cargos de chefia e liderança é uma grande conquista, sem falar que estamos mais escolarizadas, politizadas e empreendedoras. Porém, é preciso ampliar as discussões e a conscientização de nossas meninas para que, futuramente, tenhamos mulheres atuantes, questionadoras e militantes da criação e da defesa dos direitos da mulher”, afirma a relações públicas Cássia Costa que trabalha na Coordenação de Comunicação Social/Reitoria.

Para Kiliane Oliveira, assistente de aluno que trabalha na Coordenação de Assuntos Estudantis (CAE) do Campus Uruçuca, o hoje da mulher liga-se à responsabilidade de posicionamento e transformação pelas ideias e pelas atitudes das pessoas “que se limitam a aceitar valores que desmoralizam, desrespeitam e agridem ao próximo. Temos muito ainda o que fazer em nossa sociedade, acredito que um dos maiores desafios é acabar com a desigualdade em todos os sentidos”, destaca.

E, se a História está em construção, o que representa o dia 8 de março? Ana Carina Silva, técnica em assuntos educacionais que atua na Coordenação de Ensino do Campus Senhor do Bonfim, acha que as mulheres poderiam assumir sua feminilidade sem medo da inferiorização, “pois a doçura e a meiguice, própria de nossa natureza são as armas mais potentes para tornar o mundo um lugar de conciliação, coerência e sobretudo de amor e alegria”, diz.

A seguir, num bate-papo, elas relatam suas rotinas. Saiba mais sobre algumas das mulheres que constroem o IF Baiano.

Bem Baiano - O que você mais gosta em seu trabalho?
Cássia Costa - Gosto da possibilidade de exercer plenamente minha profissão e, através do meu trabalho, contribuir com a sociedade.
Ana Carina Silva - A possibilidade de dialogar com as variadas áreas do saber para coletivamente pensar em ações que possam colaborar com a formação de cidadãos crítico-reflexivos.
Karolyny Almeida (técnica em assuntos educacionais/chefe de gabinete no Campus Bom Jesus da Lapa) - O trabalho, em seu sentido ontológico, já possui intrinsecamente uma dimensão de realização do ser social. Considero que as possibilidades de me desenvolver pessoal e profissionalmente através do trabalho, de me ressignificar, agregar conhecimentos e construir novas habilidades; de contribuir com processos de trabalho e de formação tão importantes para as transformações que vislumbramos nos territórios em que nos inserimos, enquanto IF Baiano, me motivam e realizam de uma maneira muito forte. Diria que é isso o que mais gosto no meu trabalho.

Bem Baiano – Principais conquistas nas vidas pessoal e profissional?
Kiliane Oliveira - Considero uma das minhas principais conquistas profissionais minha graduação, pois as dificuldades foram inúmeras, a começar pela distância e a realidade financeira. Na época, estudava à tarde e trabalhava um turno pela manhã e outro, à noite para pagar a faculdade. Utilizava duas conduções para ir e duas, para voltar. Foi um tempo árduo de muito custo financeiro e físico. Mesmo com tantas batalhas, enfim consegui o meu objetivo a conclusão do curso. Quanto à vida pessoal, tenho minha filha, meu tesouro, sinto orgulho em ser mulher mãe e esposa. Considero essa minha maior conquista.
Eulália Muniz - Na vida pessoal, a minha maior conquista foi ter conhecido a Deus de fato e verdade, ter minha família que é meu porto seguro, ter incluído a oportunidade de estar cursando o curso superior de Agroecologia que foi responsável por tantas portas que se abriram e para que, de fato, eu pudesse contribuir com a comunidade onde resido e com a sociedade. Cada dia aprendo mais, me torno uma pessoa melhor. Ao mesmo tempo, em que somos formados também formamos, pois “quem aprende ensina ao aprender e quem ensina aprende ao ensinar” (Paulo Freire), Desse modo, estou diariamente conquistando, aprendendo e retribuindo.
Cássia Costa - Em uma sociedade em que a maioria das pessoas não gosta do que fazem, acredito que atuar, há mais de 10 anos, com prazer na área que escolhi é uma grande conquista, tanto profissional como pessoal.

Bem Baiano – O que considera como conquista do universo feminino no trabalho e na vida em sociedade? O que as mulheres precisam conquistar?
Ana Carina Silva – Certamente, as mulheres passaram a ter um reconhecimento social no seu fazer laboral, atuando nas mais diversas funções e em diferentes cargos.
Eulália Muniz - Vivemos em uma sociedade capitalista e patriarcal onde, historicamente, a mulher não tinha espaço e a desigualdade de gênero intensa. O direito à autonomia pelo trabalho foi uma conquista importante, pois permitiu que a mulher saísse de casa e conquistasse outros espaços, esta autonomia trouxe o vislumbre da emancipação e da liberdade. Ainda temos o direito ao voto, à Lei Maria da Penha que conseguiu estimular a criação de uma outra cultura com um outro modelo de punições aos agressores, virando um grande instrumento para o enfrentamento da vida doméstica.
Apesar dessas conquistas, há um longo caminho a percorrer, muito precisa ser alcançado ainda em condições de salário, autonomia do próprio corpo, respeito a todas as mulheres, combate ao tráfico de mulheres, espaço para mulheres com deficiência, paridade, sendo essa um mecanismo de superação de desigualdade. Precisamos garantir ainda mais inserção e participação das mulheres, avançando a democratização dos espaços decisórios, dispensando práticas viciadas, ocupar mais espaços de poder e desconstruir o machismo a cada dia de nossas vidas, pois cabe a nós combater esses comportamentos dignos de repúdio.
Contudo, construir espaços de auto-organização das mulheres até mesmo dentro das instituições de ensino. Nós, mulheres, precisamos que os nossos direitos sejam defendidos para que possamos viver em condições de igualdade, de respeito e de liberdade.
Karolyny Almeida – Historicamente, as mulheres vêm conquistando através de um processo longo de lutas, espaços que sempre lhes foram negados seja de maneira velada ou através da construção de uma “consciência coletiva” que pretendia determinar os papéis que deveriam e poderiam exercer, os níveis de escolaridade, o “não lugar” no mercado de trabalho e tantos outros aspectos ligados diretamente a estratégias de sujeição.
Os tempos recentes foram marcados por muitas afirmações femininas e grandes conquistas relacionadas à diversidade de papéis que desempenham de modo concomitante bem como à importância das contribuições das mulheres em todas as esferas. Esse rompimento com os padrões do passado foi, de fato, uma grande conquista que ainda está se processando. Por isso, é preciso continuar empreendendo lutas no sentido de desconstruir concepções machistas, historicamente consolidadas. O respeito às singularidades próprias da condição de mulher e às suas potencialidades precisa ser fortalecido.

IF Baiano na vida: Ser estudante, aprendizado e construção de mais um papel social da mulher

Bem Baiano – Como você soube do IF Baiano?
Eulália Muniz - Moradora de um assentamento de reforma agrária, localizado no município de Itabuna-BA, me deparo com inúmeras dificuldades existentes na zona rural e, diante dessa situação, observei que eu podia de fato contribuir com a minha comunidade.
Sendo assim, o primeiro passo foi conhecer o trabalho das cooperativas de agricultura familiar, participar de conferências, seminários, simpósios, enfim tudo que tivesse ligação com a realidade em que estou inserida. Na cooperativa, ouvir falar sobre o trabalho da instituição IF Baiano que estava sendo parceira de um curso do Pronatec Rural no curso de agricultor agroflorestal junto ao assentamento Terra Vista em Arataca-BA.
Pesquisei sobre a instituição e, pouco tempo depois, descobri o curso de agroecologia. O IF Baiano abriu vagas para o primeiro curso superior de Tecnologia em Agroecologia da nossa região através do SISU e eu consegui ingressar.

Bem Baiano – O que há de melhor no IF Baiano? Na área de seu curso?
Eulália Muniz - Em nossa instituição, somos contemplados por bons professores, uma boa biblioteca, Ensino, Pesquisa, Extensão, assistência estudantil e espaço onde os alunos podem verdadeiramente participar, conhecer, intervir, transformar, espaço este que conquistamos! Desse modo, estamos no caminho para alcançar uma instituição cada vez mais democrática, popular e transformadora.
A agroecologia envolve muita mais do que simplesmente um modelo de produção,
diminuição de impactos na agricultura e nos parâmetros de desenvolvimento sustentável. Ela vem se construindo, uma relação homem-mundo, uma relação de transformação. Trabalhar com as pessoas e a produção do conhecimento é fascinante. Esse conhecimento ocorre a partir da cultura local, do saber popular e das condições do meio, sempre buscando garantir a autonomia em relação às tecnologias alternativas oriundas do empirismo. O processo educativo e científico do curso de agroecologia do IF Baiano articula o Ensino e a Pesquisa, uma relação entre teoria e prática, que viabiliza uma relação transformadora entre a Universidade e a Sociedade.

Bem Baiano – O que você idealiza para sua vida profissional?
Eulália Muniz - Aplicar os conhecimentos adquiridos na graduação, na minha comunidade, orientando para que as atividades rurais não prejudiquem o meio ambiente e que através de várias práticas agroecológicas a vida de todos se torne melhor em todos os sentidos. Além disso, pretendo continuar estudando e me especializar cada vez mais para que possa contribuir com projetos para minha região.
Eu sei que não me vejo fazendo outra coisa que não seja trabalhar com Agroecologia. Pode ser trabalhando com pesquisas ou empresas e entidades ligadas ao planejamento de atividades ligadas à produção agrícola. Um mestrado em Meio Ambiente é o objetivo e uma pós-graduação em Políticas Públicas, pois me interesso em formas de como mudar a realidade da população através de políticas, distribuição de renda, assistência técnica, programas governamentais.




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