segunda-feira, 30 de maio de 2016

Meio Ambiente: Professor fala sobre alternativas para problemas locais

O dia do Meio Ambiente, estabelecido pelas Nações Unidas, é comemorado no próximo domingo, 5 de junho. E o IF Baiano, que preza educação agroecológica, acredita que ações locais, através do Ensino, Pesquisa e Extensão podem propor alternativas para o desenvolvimento sustentável e consciente das comunidades localizadas no seu entorno, por meio de ações continuadas. 
 
Nesta entrevista, professor Cláudio Meira, do IF Baiano – CampusGuanambi, doutor em Biologia Vegetal, pela Universidade de Federal de Viçosa, fala sobre temas atuais relativos ao meio ambiente. Ele vem desenvolvendo pesquisas na área de botânica e educação ambiental, através do Grupo de Pesquisas Estresse Ambientais e Meio Ambiente. No Campus Guanambi, desenvolve um projeto de sensibilização da comunidade interna e externa, através da distribuição mudas de espécies comuns na Caatinga.



Bem Baiano - O que tem desenvolvido sobre o tema Campus Guanambi?

Cláudio Meira - Temos um projeto permanente que conta com a participação de bolsistas e voluntários com a realização de palestras, roda de debate com estudantes, funcionários e a comunidade externa sobre o tema Meio Ambiente. Através deste projeto buscamos sensibilizar para conscientizar. A realização de palestras associada à distribuição de mudas de espécies nativas e exóticas comuns da/na Caatinga, duas vezes ao ano, auxiliam na integração e interação dos atores envolvidos. Os resultados que alcançamos podem ser vistos em cada árvore plantada em áreas da escola ou em outros locais públicos e privados, além de ouvirmos das pessoas que plantar uma árvore significa melhorar a qualidade de vida do local onde esta se encontra e, pedidos para que o projeto continue atuante.

Bem Baiano - O ano de 2014 foi considerado pela mídia, com o ano da “Crise Hídrica”, em razão da queda nos níveis de abastecimento no Sudeste. Como estudioso do assunto, o que aponta como principais fatores para essa crise?

Cláudio Meira - A principal é a falta de cuidado com os recursos naturais por parte da população e a omissão de nossos governantes quanto a esta questão. O desejo desenfreado em consumir sem pensar que os recursos são finitos, acarretam diversos problemas, entre eles o desabastecimento hídrico. A capital paulista, por exemplo, não sabia, até o ano de 2014, o que era de fato, faltar água em suas casas e, a partir disso, começou-se uma batalha diária para racionar e educar a população para os efeitos nocivos do uso inadequado e sem responsabilidade da água, mas, infelizmente as propagandas ficaram somente na água e nos momentos de alerta hídrico. Não pensaram em um programa contínuo junto as escolas, indústrias, comércio e população (por exemplo) para sensibilizar sobre o uso inadequado dos recursos naturais, tão largamente desperdiçados por nossa população.

Outra forma de convivência com a Caatinga, respeitando este bioma e conservando as tradições locais, seria promover o desenvolvimento local sustentável, agregando valor aos produtos tradicionais”.

- Cláudio Meira, professor e pesquisador -


Além disso, corrobora para a crise hídrica global a derrubada de árvores das florestas, a retirada da mata ciliar, o uso cada vez maior e sem controle das águas dos rios para fins diversos, levando a morte de rios e ao desabastecimento de grandes cidades, como podemos observar em diferentes partes do mundo, fazendo com que o saldo hídrico diminua cada vez mais ano após ano.

Bem Baiano - Existem alternativas possíveis para convivência no semiárido que respeite o meio ambiente e ao mesmo tempo promova o desenvolvimento? O que pensa a respeito?

Cláudio Meira - As alternativas são muitas, porém pouco exploradas. O bioma Caatinga é frágil e muitas das atividades desenvolvidas nele poderiam ser substituídas dando maior sobrevivência ao bioma e melhorando a qualidade socioeconômica das populações. Como exemplo, pode-se citar a troca do gado bovino por caprinos, que são mais adaptados à Caatinga, requerem uma menor área de pastoreio e os alimentos durariam mais em períodos de estiagem, podendo ser utilizado para alimentar o rebanho.
Outra forma de convivência com a Caatinga respeitando este bioma e conservando as tradições locais, seria promover o desenvolvimento local sustentável agregando valor aos produtos tradicionais como as compotas e doces, incentivar e revitalizar práticas como a das costureiras e as das rendeiras que tem nestes produtos grande aceitação em mercados de outras regiões e até outros países. Para que isso funcione, é preciso organizar a população (em associações e cooperativas), pois sozinhas, as pessoas não conseguiriam ter força e quantidade suficiente para poder produzir de forma a atender a demanda por seus produtos.

“A Educação Ambiental também pode ser usada para tratar de questões socioambientais para formar cidadãos mais completos e críticos”.

- Cláudio Meira, professor e pesquisador -


Bem Baiano – Há quem argumente que pecuária é um dos principais contribuintes para osproblemas ambientais que enfrentamos. Nisso inclui, não somente o desmatamento, mas também a poluição e esgotamento da água. Como o senhor(a) vê esta questão da criação de gado, consumo e sua relação com o impacto ambiental?

Cláudio Meira - A criação de ruminantes de grande porte é um problema, mas, o problema maior não está somente na emissão de gases por estes animais e sim na associação desta com o uso irracional de água pelos pecuaristas que, muitas vezes, não fazem o manejo adequado e acabam por poluir muitos dos mananciais que servem para abastecer outros locais. O Brasil tem área em quantidade suficiente para a criação de gado bovino, entretanto, como dito, a falta de percepção com nossos recursos finitos e com a grande quantidade que dispomos pode ser um indicador dessa total falta de cuidado e desperdício com nossas fontes de água, solo, plantas e animais, que a cada dia são destruídos em nome do desenvolvimento que, pouco a pouco, vai tornando-se cada vez mais insustentável!

Bem Baiano - O Acordo de Paris demonstra que a questão meio ambiente requer também ações em termos de políticas públicas. E em termos de pesquisa, ensino, extensão e de políticas públicas locais, o que acha que pode ser feito?
Cláudio Meira - Estas ações devem andar juntas. As questões políticas norteando as ações de ensino, pesquisa e extensão e estas, realizando as práticas, para que possamos promover uma mudança de atitude em nossos alunos e, consequentemente na população, buscando a sustentabilidade e a equidade, a justiça social e uma melhor qualidade de vida para as populações.

Bem Baiano - Quando se fala em Meio Ambiente, os dados apontam muitas informações em âmbito global, mas localmente o que possível fazer e traga um impacto positivo? Pode citar um exemplo?

Cláudio Meira - Localmente, no Território do Sertão Produtivo, existem também grandes problemas ambientais, entre eles podemos citar o da desertificação. Problema que, como é difícil de ser diagnosticado, também é difícil de ser visto e aceito pelas autoridades de todas as instâncias de poder. Positivamente, podemos dizer que realizamos programas de distribuição de mudas a comunidade do IFBaiano – Campus Guanambi e também a comunidade externa. Pelo interesse da população local em ganhar as mudas para poder plantar, percebemos que as campanhas anteriores de sensibilização estão conscientizando, começando a apresentar resultados, mesmo que timidamente. Em sala de aula, os professores também têm atuado trabalhando constantemente com a questão ambiental local, apresentando os males do uso inadequado dos recursos naturais e os perigos que as gerações futuras estão correndo.

Bem Baiano - Como a Educação Ambiental deve ser inserida nas escolas? E qual a importância para formação dos estudantes?

Cláudio Meira - Os Parâmetros Curriculares Nacionais e os Temas Transversais trazem ricas indicações de trabalho com a Educação Ambiental de forma interdisciplinar em todas as áreas do ensino. Contudo, o que observa são ações isoladas e soltas em determinados momentos como datas comemorativas ou em momentos de turbulência ambiental, ficando restrita assim a “dias ou situações específicas” e, muitas vezes, sendo trabalhada apenas como um contraponto ao desequilíbrio ambiental, esquecendo-se que a Educação Ambiental também pode ser usada para tratar de questões socioambientais para formar cidadãos mais completos e críticos quanto as questões que mais tem atingido nossa sociedade.

Fotos: Arquivo pessoal de Claúdio Meira

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